quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Imprevisibilidade fiel de Javé



Um dos assuntos em que a teologia do antigo testamento gira em torno é a imprevisibilidade fiel de Javé (fidelidade imprevisível). Este tema revela-se importante ao nosso estudo uma vez que o conjunto de aspectos contemporâneos influencia na prática cristã.

O texto base para essa breve análise é o de Genesis 22:1-19 no quase sacrifício de Isaque. Javé é um Deus fiel e imprevisível. O sacrifício de primogênitos, matéria tratada em toda a Bíblia, é concreto para essa análise sobre a imprevisibilidade de Deus. Nos textos a partir da morte “simbólica” do filho da promessa até a morte de Jesus Cristo, os vínculos surpreendentes entre fidelidade e imprevisibilidade de Javé talvez nos ajudem em nossos pensamentos como na prática cristã.

Entender a fidelidade é perceber que ser fiel é permanecer na mudança. A fidelidade é a marca dos relacionamentos confiáveis, cheios de estabilidade em meio às incertezas e contingências da vida.

Javé permanece fiel mesmo mantendo na memória seus compromissos forjados com seu povo em detrimento da necessidade de dar novos significados transformando o presente por causa dos constantes pecados do povo.

Essa forma de lidar com sua própria fidelidade O torna indomesticável, imprevisível e não manipulável, talvez esse era o aspecto que Javé mais se diferenciava dos deuses do mundo antigo o fato de não ser controlado por qualquer prática religiosa.

Esse entendimento nos ajuda a verificar que algumas práticas como, por exemplo: “oração que move a mão de deus”, tornam nosso deus manipulável e controlável como as divindades dos povos antigos, contemporâneos ao povo de Israel, na antiguidade.

Essa imprevisibilidade “garante” sua (de Deus) liberdade, e quebra a lógica da ação e reação claramente expressa na peça do livro de Jó. Ele (Javé) não é, portanto, guardião de interesses pessoais ou nacionais, antes é amigo, amoroso, fielmente imprevisível, com coragem de viver entre nós, coragem de descer para nos ensinar o caminho para subir.

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Liberdade, pecado e graça irresistível.

Introdução

Um dos assuntos mais calorosos nos debates de idéias dentro do cristianismo é a livre escolha humana, ou seja, Livre Arbítrio em contraste com a teologia da queda e a soberania divina, ou seja, pessimismo antropológico.

Apesar de nenhuma dessas expressões aparecerem diretamente nos textos bíblicos, muitos pensadores cristãos esforçam-se em demonstrar com textos bíblicos, que essa ou aquela percepção, comprova uma posição previamente assumida (a deles). Quero dizer que nós, tanto de um lado como do outro, primeiro definimos qual idéia vamos assumir como "nossa" e dai vamos a caça de textos bíblicos para justificá-la.

Não foi diferente para Calvino e anteriormente Santo Agostinho.

O texto, que espero trabalhar em breve, trata de outra maneira de perceber a vida, sem assumir nenhuma das duas posições históricas, mas uma maneira dinâmica de entender nosso relacionamento com Deus.

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Evangélicos e Ética no Brasil.

Evangélicos e Ética no Brasil.


A ética evangélica tem uma característica marcante que é a baseada na moralidade pessoal. Valores centrados em relação a comportamentos específicos, considerados pecaminosos, as igrejas evangélicas brasileiras não conseguem se diferenciar significativamente do ethos nacional.

Ethos , de maneira geral, os traços característicos de um grupo, do ponto de vista social e cultural, que o diferencia de outros. Seria assim, um valor de identidade social.

Notamos claramente que o patriarcalismo, personalismo, familismo, privatismo e messianismo, marcam o modo se ser da maioria das igrejas evangélicas protestantes brasileiras, essas marcas dificultam o desenvolvimento ético e teológico nas nossas igrejas.

O paradoxo pregado de “temos que ser diferentes” vem num pacote conservador da moralidade tão rígido social e políticamente, que não nos permite fazer diferença nenhuma além, alias questionável, do testemunho pessoal.

As idéias tratadas neste texto são apenas três aspectos para termos uma ética evangélica relevante e contemporânea, não moderna.

Note que as relações sociais entre os evangélicos têm mudado. Durante a minha infância, década de 70, não era comum achar outro crente na mesma escola e mais difícil ainda na mesma sala de aula. Isso para não dizer que nossa significância no quadro político e cultural do país era irrelevante.

Nossas igrejas eram caracterizadas, no ethos evangélicos, por uma série de negações: não fumar, não beber, não adulterar, não ir ao cinema, não gostar de carnaval, não divorciar e muitos outros “nãos”. Também éramos reconhecidos por nosso “testemunho pessoal” como exemplo de honestidade, integridade, esforço profissional, confiáveis, tudo relacionado a uma ética individual de cumprimento de deveres.

A ética praticada era baseada em valores e comportamentos de missionários norte-americanos, típicos de classe média patriarcalista, sem expressão na vida política e cultural do país.

Isso mudou, o número de evangélicos é enorme, de acordo com as estatísticas quase 20% dos brasileiros, outro dia, numa obra de uma grande empresa extratora de petróleo brasileira que participei, estávamos reunidos, oito pessoas, na área de vivência na hora do almoço e não só éramos quase todos evangélicos como a maioria era pastor.

Com o crescimento de diversas e novas igrejas a ética evangélica continua baseada em questões de conduta e comportamento, a diferença real é que nossa consciência social e política nasceu e está em franco crescimento.

Ao mesmo tempo as demonstrações e o reconhecimento do velho “testemunho pessoal” está cada vez mais relaxado, a adaptação aos valores individualistas de consumo e indiferença, corrupção, desonestidade, escândalos: sexuais, financeiros e morais, são muito comuns.

O problema ficou tão grande que quando se fala de evangélico estamos nos referindo a que? Talvez a frase “eu não falo mais que sou evangélico digo que sou cristão” fique cada vez mais usada.

As obras sociais (escolas, hospitais, creches, asilos, orfanatos) da igreja evangélica, que sempre foram praticadas desde sua chegada ao Brasil, não eram parte da expressão da sua ética, somente com início significativo da atuação das ONGs com ênfase na necessidade de uma ética social e política, desenvolve-se o aspecto social, a consciência e a prática do bem ao próximo, bem como no aspecto político a representatividade democrática.

Esses novos campos nos desafiam a propor uma teologia cristã e não ideologia, pois a formação de códigos de conduta podem gerar, novamente, condenações moralistas.

Um caminho viável para a ética evangélica, teologicamente, passa pelo relacionamento teologia, espiritualidade e missão, pela liberdade proposta por Paulo na carta aos Gálatas.

Jesus nos liberta da escravidão e nos dá espaço para, na condição humana, agirmos como colaboradores do Espírito na ação libertadora. Está ação baseada na fé, e fé que Jesus é o libertador, alias, libertador não somente do nosso gueto mas, de toda humanidade.

A ética nos compele a tomar decisões e é mediante ao pensamento teológico que uma comunidade cristã define as razões e motivos para tomar decisões e agir. As razões cristãs são baseadas em amor, sem defesa de interesses ou grupos, com vistas a uma sociedade que se construa e viva os valores do reino de Deus, como na escatologia cristã do “Já” e o “Ainda não.”

Finalmente a construção de uma ética que forme pessoas melhores e sociedades melhores, caracterizadas pelo amor, liberdade e comunhão com Deus.

sábado, 21 de agosto de 2010

Reforma, Teologia e Ética Social.

Reforma, Teologia e Ética Social.


Os termos usados neste estudo estão tão relacionados que é muito difícil separá-los, de acordo com o princípio protestante. A condição de movimento de renovação é essencial à reforma. O caráter renovador da reforma foi substituído pelo engessamento institucional das igrejas históricas muito semelhante a situação da igreja antes da reforma, ainda assim o desejo de renovação continua vivo nos novos modelos de igreja.

Hoje precisamos de uma renovação protestante, baseada numa teologia relevante para nosso tempo, permeada de ética verdadeiramente cristã.

Algumas características da relação entre modernidade e protestantismo causam, talvez, o rompimento da relação intrínseca entre renovação, teologia e ética.
A adoção da idéia individualista passa pela aparência de fervor protestante nos tornando consumidores ferozes de músicas, bens religiosos, negociadores de bens materiais com Deus para nossa satisfação efêmera, perpetuadores de uma cultura de “defensores da fé” com caráter belicoso, com gestos manchados pelas atitudes de indiferença e egoísmo, mais amantes das bênçãos (dinheiro, bens materiais) do que da cruz de Cristo Jesus.

A reforma se afastou definitivamente do modelo de Igreja cristã e Estado unidos no governo. Apesar dessa discussão também gerar ambigüidades, havia uma clara distinção entre governos espiritual e temporal. O ideal de bem-comum da reforma foi se perdendo, até chegarmos hoje com instrumentos de favorecimento próprio como, por exemplo, a famigerada bancada evangélica, o “levar vantagem” também permeia o pensamento cristão evangélico nacional, somos tão parecidos, quanto parte dos conluios políticos e institucionais.

A outra característica que nos afeta é o enlace com o racionalismo, a fé racionalista não supre nossa relação com Deus, com o mundo e com nossa realidade. Desde cedo, movimentos de renovação dentro do protestantismo lutaram contra o racionalismo, porém, com o tempo esses mesmos movimentos também foram se fragmentando, afetados pelos mesmos fatores contra os quais lutavam.

Hoje, no Brasil, o desdém pelo estudo disciplinado e por uma teologia com ética é patente, frases como “quanto mais intelectual, tanto mais carnal”, ou, em forma ainda mais perigosa - “quanto mais irracional, tanto mais espiritual”, ajudam a desvincular a fé da teologia, da ética e dos alicerces protestantes.

A atitude anti-teológica, aquela que identifica teologia com heresia, racionalismo e falta de fé, é muito forte. Por outro lado a atitude academicista também é uma forma radical e incapaz de reunificar a fé, que se renova, a teologia e a ética.

A teologia é uma atividade que tem por objetivo a elaboração teórica de conceitos e praticada por pessoas dirigidas pelo Espírito Santo a reflexão, alias, essa prática seria impossível sem essa direção. A teologia não pretende substituir os evangelismos, cultos e atividades da igreja, mas em gerar discernimento, no nosso caso, cristão. Ao Recuperar o valor e a presença da teologia, e a da espiritualidade, não podemos nos praticar espiritualidades emocionalistas, irrefletidas, precisamos de uma teologia que ajude a nutrir as práticas espirituais cotidianas do povo de Deus.

A teologia cristã, que compreende a realidade e que dialoga é caracterizada, primeiramente, por sua contextualidade.

Não faz sentido construir teologias fora de contexto, portanto, importar teologias não faz o menor sentido, uma vez que o princípio protestante é estar sempre em reforma e não cópias.

A crítica e a ética, a teologia cristã e a reflexão, o questionamento a política, a economia, as instituições, sexualidade, etc. fazem parte de um todo inseparável que a serviço e resgate de muitos não serve como e nem para a perpetuação do poder mas, dirige as pessoas didaticamente como um pastor, mostrando o caminho da liberdade e responsabilidade.

A Crítica, como discernimento, não com o objetivo de apontar erros, mas, com o alvo de compreender situações, ações, valores, instituições, etc. Compreender e descrever, apontando acertos e erros, ligando o presente ao passado, imaginando futuros possíveis. A criticidade da teologia nos encaminha à construção de um futuro novo e melhor.